terça-feira, 18 de outubro de 2016

A corrente (de Alma Welt)

Pode alguém dizer que a vida é triste
E o mundo um Vale de Tormentos.
Há sempre alguém com o dedo em riste
Apontando os ajoelhados ou mais lentos

Que não conseguem carregar a sua cruz
Sem exaustos se apoiarem no vizinho
Que livrou-se da corrente e o capuz
E já estava a caminhar solto e sozinho...

Ouçam os gritos, os lamentos e o chicote!
Sou só eu que os escuto dia e noite?
São espectros que não sentem o açoite?

Báh! Alma, que caminhas solitária
E que nunca trocarias a tua sorte,
Para ser um da corrente, e não um pária!...

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17/10/2016

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Não há fogo do Inferno (de Alma Welt)

Não há fogo do Inferno, disse o papa.
Báh! Como se engana o pobre homem!
As chamas tão temidas às vezes somem
Mas o céu mais amiúde nos escapa...

Pisamos sempre sobre um mar de chamas
E não me refiro às lavas do basalto
Nem aos medos sob nossas camas,
Nem às leis que jogamos para o alto.

Mas ao puro terror de nossa morte
Como uma ameaça permanente,
Dados cegos jogando nossa sorte...

Como num jogo de cartas marcadas
Deus, dono do cassino e oponente,
Ganhando sempre, e soltando baforadas...

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16/10/2016

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A gargalhada (de Alma Welt)

É preciso muita garra para viver
E não nos arrastar feito mulambo;
A vida não é ensaio, é pra valer,
Pare de chorar e dance o mambo.

Não se lamente, se não for em latim,
Que dá dignidade ao sofrimento,
Ou então ritualize teu lamento
Gritando como o grego: Ai de mim!

Quê queres? Isso aqui não é um parque!
Há quem diga que das lágrimas é o Vale
E de desgraças ele todo o rol abarque...

É melhor dar num velório a gargalhada
Gritando em italiano: "Meno male!
Pois logo será eterna a tua risada...

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04/10/2016