domingo, 18 de dezembro de 2016

As cabeças rolam (de Alma Welt)

A Vida, como a Morte, é um mistério...
Nada sabemos, mesmo, do que importa.
Esperamos não acabar no cemitério,
Ou que a tampa do caixão seja uma porta.

Tentamos cumprir leis e seguir regras.
Alguns nem tentam, não conseguem.
Se fores dócil, paciente, tu te integras,
Ai daqueles que as razões suas não medem!

Cortesões num palácio já em escombros
Mas numa eterna intriga palaciana
Para ficar com a cabeça sobre os ombros,

Uma a uma, pobres, nobres ou valetes,
Vão rolar no meio fio e sem bandana,
As cabeças com seus cachos e topetes...
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18/12/2016

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

O Último Baile (de Alma Welt)

                            O Último Baile da Alma - desenho de Guilherme de Faria

O Último Baile (de Alma Welt)

Todos para o Baile reunidos,
Vaidosos ostentamos nosso traje,
Jóias e adereços divertidos,
Alguns que a rigor são um ultraje...

Esperamos por ela, a Nostradamus,
Anunciada no convite inusitado
Do qual poucos de nós desconfiamos
Como de um segredo já contado.

Máscaras nos foram permitidas,
O que é bom para disfarçar a palidez
Pois à meia noite, com as batidas,

Desconfio que por terra cairemos,
Alguns quase divinos, outros demos,
Todos terminaremos de uma vez...

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13/12/2016

terça-feira, 18 de outubro de 2016

A corrente (de Alma Welt)

Pode alguém dizer que a vida é triste
E o mundo um Vale de Tormentos.
Há sempre alguém com o dedo em riste
Apontando os ajoelhados ou mais lentos

Que não conseguem carregar a sua cruz
Sem exaustos se apoiarem no vizinho
Que livrou-se da corrente e o capuz
E já estava a caminhar solto e sozinho...

Ouçam os gritos, os lamentos e o chicote!
Sou só eu que os escuto dia e noite?
São espectros que não sentem o açoite?

Báh! Alma, que caminhas solitária
E que nunca trocarias a tua sorte,
Para ser um da corrente, e não um pária!...

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17/10/2016

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Não há fogo do Inferno (de Alma Welt)

Não há fogo do Inferno, disse o papa.
Báh! Como se engana o pobre homem!
As chamas tão temidas às vezes somem
Mas o céu mais amiúde nos escapa...

Pisamos sempre sobre um mar de chamas
E não me refiro às lavas do basalto
Nem aos medos sob nossas camas,
Nem às leis que jogamos para o alto.

Mas ao puro terror de nossa morte
Como uma ameaça permanente,
Dados cegos jogando nossa sorte...

Como num jogo de cartas marcadas
Deus, dono do cassino e oponente,
Ganhando sempre, e soltando baforadas...

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16/10/2016

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A gargalhada (de Alma Welt)

É preciso muita garra para viver
E não nos arrastar feito mulambo;
A vida não é ensaio, é pra valer,
Pare de chorar e dance o mambo.

Não se lamente, se não for em latim,
Que dá dignidade ao sofrimento,
Ou então ritualize teu lamento
Gritando como o grego: Ai de mim!

Quê queres? Isso aqui não é um parque!
Há quem diga que das lágrimas é o Vale
E de desgraças ele todo o rol abarque...

É melhor dar num velório a gargalhada
Gritando em italiano: "Meno male!
Pois logo será eterna a tua risada...

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04/10/2016

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Posteridade (de Alma Welt)

Há poetas que brincam com palavras
E com eles às vezes me divirto,
E não nego o valor de suas lavras,
Mas disso eu mesmo me advirto,

Não estou pra brincadeiras, isto é sério,
A vida é uma tragédia anunciada:
Acaba em cinzas ou então no cemitério
E fora o mito não nos sobra nada.

A grande arte compensação retarda,
Posteridade é só o que interessa
Desde que pra sempre a chama arda.

O que queres,falso artista? Viver bem?
A vida é sedução, falsa promessa,
Mas a arte ilumina desde o Além...

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17/08/2016