sexta-feira, 24 de maio de 2013

A Morte ri (de Alma Welt)


Joguemos com a vida limpo e sério
Mas não esqueçamos riso e humor.
A morte ser risonha é um mistério
Pois seu riso branco é seu pendor

Porque gosta de dançar e de tocar

Seu violino de timbre aciganado
Com arpejos qual faíscas ao luar,
A foice descansando ali ao lado.

Mas se eu puder responder ao riso dela
Só lhes peço que me abram a janela
Naquela hora mesma de ir embora.

Então cantemos, dancemos e riamos
Até o dia raiar em nova aurora
Porque de todo jeito nós nos vamos...

terça-feira, 21 de maio de 2013

Encontro com a Moira (II) (de Alma Welt)

 
pintura de Guilherme de Faria
 
 
Encontro com a Moira (II) (de Alma Welt)
 
E então me levantei diante da Morte...
Disse: “Ó Moira, espera, não me leves!
Assim não te trarei um grande aporte,
Nem sequer escrevi meu “Vita Brevis”!

“Dá-me mais tempo, Rainha dos escuros,
Para fechar o meu Diário e despedir-me
De todos os que amei por serem puros
E que preciso beijar antes de ir-me...”

“Dá-me um mãozinha com esta lenha.
Por isto só, chamei, meio no impulso,
Uma pequena ajuda que me venha.”

“Vê como estou forte e ainda nova!
Sou pálida mas ainda tenho pulso,
Qualquer paixão me diverte e me renova!”

sábado, 16 de março de 2013

A Morte no Cavalo Pálido (de Alma Welt)






     
          Death on a Pale Horse - Albert Pinkham Ryder (american, 1847 – 1917)

A Morte no Cavalo Pálido (de Alma Welt)
 (para Albert Pinkham Ryder)

Lá vem o cavaleiro mais esquálido,
Aquele descarnado e com a foice,
Galopando no seu cavalo pálido,
A serpente muito perto do seu coice.

O céu é tenebroso, isto é receita
Para alguma pobre alma ser colhida
E uma vida ser ceifada na colheita
No mais das vezes bem desprevenida.

Há quem diga que a vida é prazerosa
E que não devemos olhar o lado escuro
Deixando pra poesia ou para a prosa

Nas estórias de serão de cuia e bomba
Na coxilha tomando o mate puro
Para depois dormir como uma pomba...

sábado, 9 de março de 2013

Ela (de Alma Welt)


O  lenhador e a Morte- ilustração para a fábula de La Fontaine
 
Ela (de Alma Welt)

A ela os governantes sucumbiram
E os reis, os maiores, destronados
Perderam suas cabeças, como viram
Na primeira fila os deserdados.

As mais belas cortesãs, até rainhas
Com os seus brancos pescoços perfumados
Perderam o sorriso e as covinhas.
Que digo? A cabeça e seus penteados...

Também o pobre a conhece muito bem,
Diante dela se cala e também muda,
Que, igualitária, a todos ela vem.

O lenhador ao defrontá-la disfarçou,
Mudou o pedido de sua ajuda
E quis mão só com a lenha que lenhou...
 

quinta-feira, 7 de março de 2013

A Última Dança (de Alma Welt)




                     A Dança da Morte - xilogravura de Alfred Rethel

A Última Dança (de Alma Welt)

Estamos à mercê dos oito ventos
E conforme seu sopro, tal destino.
Os dias, meses e anos, muito lentos,
E a caveira tocando o violino...

Nada faz muito sentido na verdade,
E precisamos criar uma mais pura,
Pra além de encontrar cara-metade
Ou quebrar a nossa cara na procura.

A Moira virtuose se concentra,
Pisicatos e arpejos primorosos
Enquanto a festa nossa, vã, adentra.

Façamos, pois, dos dias, ramalhetes
Para ofertar além dos nossos ossos
Que chacoalham em fios de molinetes...


domingo, 24 de fevereiro de 2013

O Cavaleiro (de Alma Welt)




 
O Cavaleiro (de Alma Welt)

Lá vem o cavaleiro pela estrada
Embuçado e negro como a noite
Seu cavalo magro é uma ossada,
Do alfanje é raro quem se acoite.

Eu já o vi outras vezes na coxilha
E nunca deixarei de arrepiar-me
Pois se nenhum vivente é uma ilha
Não tardará tampouco a abordar-me.

Nas noites pampianas já não ouso
Fazer o meu mateio de bivaque
Ouvindo as lendas do casal famoso

Pois os gáltchos daqui também o viram,
Evitam pôr seus vultos em destaque
E os sinos que dobram "nunca ouviram"...
 

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Os Títeres de Deus (de Alma Welt)


A maior pantomima deste mundo
É a última encenada pela Arte
Mesmo que aborde o lado imundo
Que é da beleza a contraparte.

Vida e Morte, o belo e o feio,
A carne pelos vermes devorada
E a caveira gargalhando lá no meio,
Apavorando e nunca apavorada...

Nossa estranha armação de cálcio feita
Tem um toque de humor feito fantoche
Que anda com tremores de maleita.

Mas Deus, nosso grande titereiro,
Ama o seu teatrinho de deboche,
E penso ri também tremendo inteiro...